Boa noite, meu nome é Gabriela.
Boa noooooite Gabriela. Qual o seu problema?
Eu tenho TOC. Muito TOC.
Todo mundo tem um pouco Gabriela, não se preocupe.
Mas eu acho que tenho todos. Serião.
Eu tenho tanto toc que devo ter toc em ter toc. Cientificamente, o Transtorno Obsessivo Compulsivo “manifesta-se sob a forma de alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos (obsessões como dúvidas, preocupações excessivas) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão).” Acho que o meu caso é só o de comportamento mesmo. (Continue no blog amiguinha(o) eu não vou te matar.) Mas eu tenho toc. É comprovado.
Minha sobrancelha dificilmente tem algum pelo fora do lugar. (E todas as sobrancelhas das pessoas me incomodam!) Minhas unhas quando ralam é uma tragédia. Gostaria de fazer 2 vezes por semana ao invés de uma, mas minha mãe diz que isso é toc (ah va!) Só entro em avião pisando com o pé direito. Do contrário o avião vai cair, é um fato. (Nunca comprovei, mas sei que é fato!) Tomo banho no escuro. É mais relaxante. E a ordem é sempre a mesma: shampoo, condicionador, sabonete, exfoliante no rosto, lava calcinha, sabonete líquido. Não existe ter outra ordem. O make de toda manhã também segue a ordem. É protetor, bronze e rímel. E seca a franja. Sempre assim. Os cremes e perfumes devem estar com os logos virados pra mim. A privada que eu uso num banheiro que tem várias, é a que usarei pelo resto da minha existência. Não vou mudar.
Eu preciso ler um livro até o final, por mais chato e bizarro que seja a história. (Olha só que boa notícia pras editoras!) Os números devem ser sempre múltiplo de 5. O volume do rádio do carro, o horário do despertador, a velocidade da esteira, a página do livro que eu paro e assim por diante. Os números de likes no instagram e facebook deveriam cumprir isso, mas nem sempre são assim. Apesar de eu mesma dar um like numa foto quando está no 29 e eu quero que vire 30. (Daí vem um atrasadinho e da like, sendo o 31 e fode o esquema). Não existe ter alguma notificação ou mensagem não lida no celular. Inclusive aplicativos para serem atualizados.
As datas para se começar uma dieta bastam ser números pares. Eu sempre tiro o relógio e anéis quando chego em casa. Estralo as costas e os dedos todos os dias quando acordo senão não levanto da cama.
Minha mesa do trabalho é milimetricamente organizada. O caderno tem que estar alinhado com o teclado e os post its vão do maior pro menor paralelo ao telefone que fica transversal ao durex e grampeador.
Meus e-mails são sempre lidos e bem distribuídos em pastas incríveis. Meu to do list tem flechinha “vazia” porque quando eu meio que fiz a coisa eu dou um check do lado e quando fiz por completo eu deixo a flechinha cheia. Eu sou tão louca, mas tão louca que as vezes coloco um to do que já fiz só pela sensação de dar check. Medo de mim.
As tortas, ou quiches, ou qualquer coisa que se sirva deve seguir uma linha reta quando cortadas. Não é pra brincar de castelinho na praia cavando areia na comida. Meu irmão sempre faz isso pra me irritar. Os pratos sujos dentro da pia devem estar empilhados e ao lado os talheres. Não é show de equilibrismo o pós-refeição.
E o reveillon? Ah o reveillon, o show das tradições e superstições. Na minha teoria doentia a maneira que você passa o reveillon é como será o resto do seu ano. Portanto tem sempre que começar pisando com o pé direito e se atentar a cada detalhe. A primeira palavra, o primeiro abraço, o primeiro xixi, o primeiro drink, o primeiro beijo. É muito sério isso. Dá má sorte começar tudo errado. (Má sorte porque tenho toc de quem fala aquela palavra contrária a sorte. Atrai. Sai pra lá!)
E o toc de que Deus castiga? Tenho a plena convicção que se eu fizer alguma coisa errada ou se eu for maldosa, volta pra mim, praticamente no mesmo dia. Vou levar um tombo, ficar com o dente sujo num jantar romântico, vou bater o carro, rasgar a calça, fazer um papelão. Cair no vão do metro (essa é uma teoria do meu chefe, muito interessante por sinal).
Ai, acho que são esses os tocs mais importantes. Em resumo assim. Viu só, que pessoa interessantíssima e normal que eu sou? Quer ser minha amiga? Meu best? Mas ó, eu juro que tenho diversas qualidades também. De verdade. Não se assuste. Vamos sair, tomar um café e conversar e eu te provo que sou bem legalzona além de doente. Mas por favor, deixa eu escolher a cadeira pra sentar. Não gosto de sentar de costas pra porta. Sorry. My bad.