Arquivo | abril, 2015

O mundo do triathlon por uma ex-desinformada.

27 abr

1410112422 Triathlon todo mundo conhece. Aquele esporte maluco, de gente maluca que corre, nada e pedala, não necessariamente nessa ordem mas tudo junto, um seguido do outro. Essas três modalidades aí que cansam bastante. Pra mim esse mundo era tão próximo quanto ter meu primeiro milhão (acredite, tão longe que quase inatingível). Até que meu namorado começou a fazer e começou a treinar sério para uma prova onde ele teve que nadar 1800m, pedalar 90km e correr 21km (!!!!!!!). Outra daquelas coisas tão próximas pra mim, quanto falar russo fluentemente.

Achei que não mudaria muito minha rotina nem a dele. Afinal, a gente já vinha correndo, ele sempre treinou (no ritmo alucinante e desesperador dele) e eu sempre treinei, do jeito normal como pessoas normais treinam. Então achei que apenas estaríamos incluindo 2 esportes na nossa vida. O que eu não sabia era que a whole new world estava por vir. Sério, esse tal Mundo Tri é um mundo mesmo, não da pra acreditar as particularidades. Eu aprendi (e venho aprendendo) tanto, que venho pensando até em de fato entrar pra esse mundo e fazer provas tipo Iroman. Mentira, nem nascendo de novo. Mas eu amo acompanhar, apoiar e estar lá na linha chegada fotografando cada segundo. Sério, sou a chinesa na Disney nessas provas. Tiro mais fotos que todos os fotógrafos juntos.

É totalmente impressionante o que você vê e aprende nesse mundo. Pra começar, ninguém gosta de dormir. Juro, nunca vi pessoas que acordam tão cedo como essas. Eu gosto muito de dormir, realmente admiro essas pessoas que abrem mão desse prazer. As 08:00 da manhã deles é tipo o meu 12:00. Já aconteceu muita coisa. O dia deles começa as 05:00, quando não 04:30. Tem sido muito puxado acompanhar. E ninguém boceja nem tem preguiça, unbeliavable. Todo mundo ali num sábado, as 06:00 da matina como se fosse normal. Ah, e o dia dos triatletas tem mais horas que os nossos. Uma coisa maravilhosa. Enquanto o nosso dia tem 24 horas, em que você trabalha, dorme, come, corre e lê, o deles tem uma media de 53 horas em que eles pedalam muito, trabalham,  nadam muito, comem, correm muito, e uns ainda conseguem ver os amigos e namorada. Disciplina, foco e determinação são as palavras chaves desse povo. É admirável mesmo. Ah! Eles também são muito bons em matemática, é inacreditável a rapidez que eles calculam as distâncias, velocidades, paces e tudo mais. Eu passei o meio iron inteiro tentando calcular os minutos de cada tempo e as velocidades das pessoas, mas no final eu desisti e baixei um app maravilhoso que faz isso por mim. Mas eles? Volto a dizer, todos tem uma HP embutida na bike, só pode ser. Eu percebi também que eles perdem um pouco o bom senso ao se referirem a distâncias. Eles falam que hoje correram SÓ 15km porque era pra “soltar” (só pra te humilhar assim). Ou falam que pedalam 150km como se fosse algo realmente normal. “Ah, vou daqui até a praia pedalando, de boa logo ali”. Ou falam que correm uma meia maratona “pra” 1 hora e 20min porque aquele dia estavam cansados. Alguém precisa urgente contar pra eles que essas coisas não são naturais, e eles beiram ser extraterrestres. Eu tento explicar pro meu namorado mas ele ri de mim. Não entendo.

Outra coisa, eles transformam palavras que antes eram designadas para certas coisas, em descrições de outras. Sério, é um dialeto próprio. Quando você imaginava que quadro era só aquilo que vai na parede, você descobre que ele a parte central e principal da bike. Garfo também não é só pra comer, tá ali na bike, peça importantíssima que segura a roda. Você que se achava super descolado que falava squeeze as invés de garrafinha de agua, você tá super por fora. O nome disso no ciclismo é caramanhola. Veja só…E quando meu namorado me pediu para segurar a coroa, imaginei que ele estava se referindo a eu ser uma princesa, obviamente. Mas não, é aquele troço na bike que segura a corrente. Tem também o Co2 que até então a gente imaginava ser aquilo que as plantas absorvem e coisas da aula de química, mas eu aprendi que serve pra encher o pneu da bike também. Muito curioso.

Uma vez, depois de uma prova um deles me disse : “desci socando e depois fiquei só no clipe”. Fiquei bastante confusa, confesso. Me veio na cabeça uma briga, muitos socos, algo muito violento que envolvia clips que seguram papel. Mas ele só estava querendo dizer que pedalou muito forte, e ficou apoiado naquela almofadinha do guidão. No triathlon não tem violência, socar é apenas pedalar muito forte mesmo. Ufa. E o tanto que falam na pé de vela? E eu só imaginando um pé em formato de vela até descobrir que o certo era uma palavra só, a pedivela. E acho incrível que eles usam aquela sapatilha engraçada que lembra meu sapato de sapateado. Mas fico feliz em saber que em algum momento da vida os homens podem sentir o que é andar de salto fazendo barulho por aí.

Sabe o que é chocante também? Como esse esporte pode ser caro. A bike especificamente porque a corrida é só um bom tenis e a natação um óculos e um bom wetsuit (to super in do nome das coisas), mas as bicicletas e os acessórios são assustadores os preços. Tem bike de R$ 50.000,00! Cin-quen-ta mil reais. É muito mais que um carro popular. E as vezes elas são baratas e até que acessíveis mas daí você ainda tem que providenciar as rodas que são outras fortunas. Fico passada. Inclusive proibi meu namorado de reclamar quando compro bolsas caras. Ele rebateu dizendo que eu não posso montar na bolsa e sair pedalando. Não achei a menor graça na brincadeira mas dei um sorrisinho.

Bom, essas são as minhas primeiras impressões após alguns meses de treinos e provas (de acompanhar, não fazer, naturalmente) mas acho que já deu pra aprender bastante né? O meio iron de Miami é a próxima parada, de lá posso tirar mais informações e aprendizados. Aliás, outra coisa interessante, aparentemente isso é viciante. Eles saem das provas, exaustos, semi mortos, com bolhas alienígenas, unhas do pés roxas e ainda assim já se inscrevem pro próximo e não veem a hora. E os treinos já começam no outro dia. Vai entender… Bom, eu vou lá de fato entender. E quem sabe um dia não me aventuro numa dessas…afinal não deixa de ser uma boa desculpa para viajar e conhecer novos lugares, coisa que eu mais amo no mundo.