Arquivo | outubro, 2015

Para o meu pai. Com todo o meu amor.

6 out

large

Po pai, não me dá um susto desses! Não vem me dizer que o resultado do exame é preocupante. Não me mata do coração assim. Resultados de exames de pais nunca são preocupantes, e nem nada de errado acontece com vocês. Não era isso quando eu era criança? Por que tem que mudar agora? Não, não aceito. Você e a mamãe não têm doenças ou problemas. Vocês não ficam doentes. Somos nós, os filhos que ficamos porque não ouvimos quando vocês mandaram a gente pegar o casaco. Ou quando vocês diziam que a gente deveria fazer de um jeito e fizemos o oposto e deu tudo errado exatamente como vocês previam. Só pra gente ter que ver aquelas suas carinhas irritantes de: “viu, eu avisei”. Me dá nos nervos aquela carinha de que você tinha razão, porque vocês sempre tem razão.

Sério pai, não me venha com essa cara de preocupação e esses olhinhos cheio de lágrimas. Não me venha com medo, porque pais não têm medo. Pais são acima do bem e do mal. Não começa com essa história de medo de morrer. Pais são imortais até onde eu sei. Na boa, se você morrer eu te mato, pai. Sério, não brinca com essas coisas porque já dizia você que com essas coisas não se brinca.

Para com essa palhaçada de que as coisas podem dar errado. Você é o cara mais divertido e otimista que conheço, você não só vê o copo meio cheio, mas você quer ele meio cheio de vodka que já é pra começar a balada logo e parar de enrolação. Então não me venha agora com esse papinho de que sempre deu certo e agora sim vai dar errado. Pelo amor de Deus, não me fala uma barbaridade dessa, pai. Eu não vou falar mais uma vez para parar de falar besteira. Vou contar até 3. Um, dois… Quer apanhar? Vou te ameaçar com o chinelo Raider como você fazia quando a gente era criança e você levantava aquele chinelão que nunca sequer relou na gente. E olha que não foi por falta de merecimento da nossa parte. A gente merecia mesmo a sapataria do futuro todinha na nossa bunda.

Pai, para com essa história de que está doente. Esquece esse blablabla de que “não tem cura” porque não existe isso. Os pais sempre têm as repostas e sempre têm remédio. Aquela cestinha de remédios que a mamãe guarda no banheiro de vocês, sabe? Aposto que lá tem o remédio que você precisa. E pronto, pega lá o que você precisa e esse troço aí não vai te derrubar. Um furacão não te derruba e esse tal desse exame aí vai derrubar? Ah, faça me o favor pai. Uma tremedeira nas mãos vai tirar o seu humor inabalável e seu brilho de viver?  Pra mim isso aí é um passo especial que te vejo dançando, como sempre, arrasando na pista. Não entendi qual a diferença de antes.

Agora chega dessa brincadeira mesmo, tá? De verdade, pai. Perdeu a graça. Não vamos mais falar sobre doença ou que você está doente porque não faz sentido nenhum. A vida continua a mesma e você vai viver pra sempre. Você continua saudável. Porque você é pai e só eu que sou filha posso pegar uma gripe pra você ir andando até a farmácia de pijama me comprar aspirina. Vamos parar de papo de doença porque minha vida não existe sem a sua. Você é minha vida, na verdade, então fica complicado se você não estiver por perto, entende? Porque você é meu orgulho, meu herói, meu style. Você é meu coração e minha alma, e a gente não vive sem essas coisas. E a gente tem muito pra viver ainda. Juntos. Então chega disso, ok? E não quero mais ouvir um piu. E fim de papo.