Arquivo | novembro, 2013

Um dia qualquer no cabeleireiro.

25 nov

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Ir ao cabeleireiro pra mim é tarefa semanal. Dependendo da época (e da neura), até duas vezes por semana. E não tem nada de muito espetacular apesar de ser quase uma terapia. Mas é sempre tão parecido que nunca costumo ter momentos muito memoráveis lá. Até que um dia fui surpreendida.

Eu: – Oi, tudo bem?

Ele: – Oi, você é Gabriela né? Sou Junior, sou novo aqui!

Eu: – Oi Junior, quero fazer uma hidratação.

Ele: – Vamo hidratar essa cabeleira então.

Eu: – Mas só nas pontas tá?

Ele: – Não, vamo hidratar isso aí tudo.

Eu: – Não, meu cabelo é super oleoso, se você hidratar a raiz vai dar pra fritar uma coxinha, confia em mim.

Ele: – Ta, vamo hidratar tudo. E depois se a gente mudar? Cortar uma franjinha?

Eu: – Não, vou parecer retardada.

Ele: – Um corte moderno, Chanel?

Eu: – Nem… pareço aqueles abajures de canto de sala. Compriiiido e com uma coisa ao redor, sabe?

Ele: – Aiii que chata, vamos repicar esse cabelo todinho? Dar vida?

Eu: – Putz, é que meu cabelo é tão fino, acho que fica meio estranho.

Ele: – Magina bee, vai ficar bafo, pra você ter aquela cara de que “ai, vim correndo”, sabe?

Eu: – Correndo de onde?

Ele: – Sei lá, pela Marginal. “Cheguei, vim correndo, to fresca”.

Eu: – Humm, acho que vou ficar como estou mesmo.

Ele: – Meio assim, Maria Madalena arrependida?

Eu: – Isso. Não acha que ta bom?

Ele: – Ai, essa criança aqui tá me tirando do sério.

Eu: – Qual? Ela não é filha da manicure, que é sua amiga?

Ele: – É, ela pintou minha unha. Que nem a cara dela. Criança demoníaca, catarrenta.

Eu: – Viu Junior… não precisa secar não, meu cabelo é bem liso, seca bem sozinho.

Ele: – Ah, que isso bee, vou fazer uns cachos aqui, vai rola algo hoje a noite?

Eu: – Não, to tranquila hoje, vou no máximo ao cinema.

Ele: – Ahhh, nunca se sabe, o whatsapp apita e tudo muda. Fica online aí que ce vai ver. Vou fazer os cachos.

Eu: – Mas hoje vou fazer alguma coisa bem sussa mesmo, amanhã cedo vou correr.

Ele: – Correr? Sabe quando eu corro? Quando falam “open bar até as 00:00” aí eu saio correndo que nem uma doida. Aliás, to saindo com um bofe, aposto que ele corre. Saí com ele e era todo trabalhado na vida saudável, só come coisa ruim. Daí me fiz a saudável né? Comi uma saladinha.

Eu: – E chegando em casa?

Ele: – Mandei uma picanha e tudo que vi na minha frente. Ai, acho que não vai dar certo esse afair, deixa ele saber que sou essa trashera só.

Eu: – Ah, de repente ele gosta, por você ser assim diferente.

Ele: – Ai, não to dando conta desses bambolês na tua orelha.

Eu: – Ué, por que não disse antes? Eu tiraria!

Ele: – Ah, sei lá, tava tímida no começo, agora que a gente é tipo prima, posso falar. Aliás, cor linda a sua, quem fez?

Eu: – Obrigada. Foi o Kamura.

Ele: – A índia velha? Sei ele é bom mesmo. O que você tá lendo?

Eu: – É um livro da Kabbalah, sabe?

Ele: – Nossa, eu bem vi sua pulseira, mas não sabia se era dos Santos do Bonfim ou da Kabbalah. Me dá uma pulseirinha dessa?

Eu: – É que você precisa ir lá, alguém tem que fazer uma reza pra colocar…

Ele: – Ah que chique. Eu tenho uma amiga que um belo dia, a gente quis se libertar sabe? A gente tava em Londres e ela quis sair sem escova. Daí uma hora não deu, eu falei “Ah Bee, se libertou mas tá uó. Parece uma doméstica, que apanha do marido. Tó aqui um elástico”.

Eu: – E você se libertou como?

Ele: – Eu tava de saia longa preta, blusa preta, meu dreads e um óculão.

Eu: – Ah, tipo uma mãe de santo de luto?

Ele: – Era mais pra McQueen. Não né? Não me libertei também.

Eu: – Tá, mas o que tem a ver com a Kabbalah?

Ele: – Que Kabbalah bem?

Eu: – É que você me perguntou.

Ele: – Ih, larga esse livro. Dá uma Kabbalahda e uma twitada, uma Kabbalahda e uma twitada.

Eu: – É que eu não tenho Twitter.

Ele: – Pronto, ta lindíssima.

Eu: – Obrigada.

Ele: – Volta aqui hein?

Eu: – Volto sim.

Ele: – Mas semana que vem, não daqui a 8 anos né? Pelo amor.

Eu: – Deixa comigo. (Piscadela).

Como tolerar a intolerância.

18 nov

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No mês passado eu fui diagnosticada com uma “coisa”. Não sei nem se isso se classifica como doença, então pra mim é coisa mesmo. Me disseram que eu tenho intolerância à lactose. Por um lado foi bom, pois finalmente descobriram o motivo de eu estar sempre enjoada e vomitando sem parar, não estando grávida (ufa!!!). Mas por outro, foi bem triste. Basicamente, intolerância à lactose é uma alergia a leite e derivados, é a incapacidade de digerir esses alimentos. E para uma pessoa vegetariana, viciada em iogurte e queijos isso pode ser bem triste. Mas ok, vamos ver pelo lado bom, ao menos não é o problema com glúten, porque se fosse e eu não pudesse comer pães e derivados do trigo, eu acho que preferiria levar um tiro de raspão.

Enfim, a questão é que com essa descoberta, eu comecei a prestar atenção em mais um monte de coisa que sou intolerante. Um monte mesmo. Eu sou totalmente intolerante a gente chata por exemplo. Sabe gente mimimi, gente que tá sempre sofrida? Você pergunta “e aí, tudo bem?” e a pessoa responde “ah, tudo indo, a gente vai levando”. Gente chata. Zero paciência. Eu sou muito intolerante a mentira, e a falsidade também. Isso me tira do sério. Eu sou muito sincera com a maioria das coisas. Pra que mentir? Pra que forçar a barra?

Sabe outra coisa que sou totalmente intolerante? A gente louca. Gente bipolar. Aliás, bipolar devo ser eu… Tem gente por aí pentapolar. Uma hora te ama, depois não quer mais, um dia faz de tudo por você e depois finge que não te conhece. Você é tudo que ele sempre sonhou e de repente ele bate a cabeça e não é nada daquilo. Nesses casos nem tolerância resolve. Você precisa ser louca como a pessoa pra tentar entender.

Eu notei umas intolerâncias mais simples também. Outro dia estava vendo TV e queria ver qual seria o próximo programa, mas a barrinha da NET demorou segundos, pra não dizer milésimos de segundos pra atualizar e eu já estava alucinada! Ela estava ali “carregando” e eu pensando: Como pode demorar tanto pra mostrar o próximo programa? Sendo o “tanto” um tempo realmente ridículo. Às vezes eu me irrito com aqueles microssegundos que fico sem sinal no celular da garagem até chegar em casa. Totalmente intolerante. Aqueles centésimos de segundos antes do telefone começar a chamar e o reloginho do whatsapp? Intolerância pura. A internet demorar pra funcionar, o cara da frente demorar pra andar quando o farol abre, o voo demorar pra decolar, o médico demorar pra atender, a fila não andar, o cartão de crédito não passar. A gente anda intolerante pra tanta coisa.

Não sei se é algo da minha geração imediatista mas eu fico pensando como eram as coisas antes. Como era mais fácil quando as pessoas eram talvez mais pacientes e menos malucas. E ao mesmo tempo que queremos “tudo junto, ao mesmo tempo, agora, pra já” , penso que a nossa geração é muito tolerante para coisas sérias. Somos tolerantes a um monte de absurdo do nosso governo, enquanto mulheres, com um monte de desrespeito de homens, como pessoas, às incontáveis injustiças. É bastante contraditório.

Bom, o meu corpo não tolera mais que eu tome um copo de leite ou que eu coma um pedaço de polenguinho, e com relação a isso há bem pouco que eu possa fazer infelizmente… Mas quem sabe eu possa fazer um esforcinho para que minha mente seja um pouco mais tolerante e flexível com aquilo que é tolerável, não? E se eu for mais gentil e mais paciente no transito, na fila, no médico, no whatsapp? E se todo mundo tentar ser mais tolerante na vida? Acho que o mundo vai ficar mais tolerável pra todos né?

Eu descobri que recentemente foi o dia do mau humor (13/11), e também, foi o dia da tolerância (16/11) e isso me fez escrever esse texto. Esse é apenas um desabafo de alguém tolerante perante a coisas totalmente intoleráveis. Um brinde de leite! Cheers!

A difícil primeira vez.

4 nov

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Pai, mãe e irmão, antes de tudo queria pedir desculpas pelas asneiras que lerão aqui. E queria contar um segredo, uma má notícia. Eu transo. É isso. Não sou mais virgem há uma década. Ups. Desculpe desapontar, mas acho que podem lidar com isso né?

Bom, e considerando esse fato consumado e conversando com muita gente a respeito eu cheguei a uma conclusão: primeiras vezes são sempre difíceis. Não digo primeira vez quando se é virgem porque essa é óbvio que é difícil e envolve um monte de coisa e inseguranças e medos e tudo mais. Estou me referindo a primeira vez com qualquer pessoa. É sempre complicado.

Começa no problema do quando. Quando é a hora? Saímos umas 3 vezes e queremos, tá na hora? Muito cedo? Estamos saindo há meses mas ainda não estou segura, é a hora? Será que ele tá fazendo isso com outra? Na primeira saída, foi tudo tão legal e quente que vai ser agora. Vai me achar vadia certeza, né? Gosto dele mas acho que não temos química e vai acabar se rolar. Vou mesmo assim? Só vou quando estiver namorando, sou de família. Tá, mas e se for terrível e vocês já estão namorando? E agora? Só vou depois de casar, minha mãe casou virgem e farei o mesmo. Oi, ainda existe isso? Saímos 10 vezes e vamos viajar juntos. Não tem saída, vai ter que ser! Enfim, essa dúvida já bate logo de cara, qual é o momento ideal?

Tá, daí algum momento foi propício e no primeiro date ou sei lá depois de quantos, vocês resolvem que chegou a hora. Segundo problema: aonde? Moços, morem sozinhos, pelo amor de Deus! É muito desagradável essa indecisão de onde ir. Na sua casa não dá porque tem seus pais, na minha muito menos porque tem meus pais. Hotel não é a melhor opção e motel é tão disgusting que não sei se é melhor ir com ou sem lençol de tanta aflição. Um pequeno parênteses para o motel. Senhores, em hipótese alguma nessa vida dividam o motel. Numa boa. Tá, foi tão bom pra ela quanto pra você, os dois se deram bem, ambos usufruíram daquele serviço magnífico e da decoração baiana do local. E ambos saíram felizes e com seus sonhos de valsa. Mas sério, você homem paga, não tem cabimento dividir ou ela pagar. Não dá nem pra entrar nesse mérito. Voltando ao problema… E aí? Bom, acho que um hotel é a melhor opção então.

Vocês chegam lá e pedem um quarto para meia diária. São 4:30 da manhã e o recepcionista deve realmente achar que vocês só vão lá para dormir, ou para uma reunião importante afinal de contas. Chegam no quarto, se olham. Começa a pegação. Não tem porque fazer joguinho e disfarçar a essa altura do championship afinal ambos estão ali por um único motivo. Problema 3: como fazer? Ninguém sabe o que o outro quer, ninguém sabe como o outro gosta, não se tem intimidade pra pedir nada, tudo é muito constrangedor. Mas ok, segue o jogo. Daí obviamente por ser a primeira vez, um monte de coisa vai sair “errada”. A blusa emperra no pescoço, e você fica parecendo que tá se matando sufocada, o sutiã resolve não abrir, a calça dele não desenrosca do pé nem fazendo acrobacia, alguém acaba ficando de meia, aquela coisa. Tem o fato de estar com a lingerie errada também. Aliás, isso é muito puxado. Você não quer estar com uma básica porque quer impressionar, mas daí também se sacar logo um fio dental preto vai mostrar que estava louca pra dar. É complicado.

Bom, tá tudo indo bem (dentro do possível) e chega o problema 4: a hora da camisinha. Como lidar? Você quer colocar pra não quebrar o clima mas não sabe fazer direito e coloca errado e ele arruma, ou você não se envolve e fica lá assistindo que nem uma idiota. Ou você faz uma graça e coloca de um jeito tão errado que acaba te dando um brinde (baby) depois de alguns meses. É uma hora muito delicada, podia ser permitido dar uma olhada no instagram essa hora, sei lá, dar uma distraída ou fazer algo de útil nesse momento tão dele.

Daí continua, ninguém sabe o que falar, se falar, rolam aqueles barulhos de vácuo de pele que se você não tem intimidade é totalmente constrangedor, e daí rolam umas manias estranhas e umas particularidades que de novo, sem intimidade é bem difícil lidar. Tem também aquele lance de fantasia que eu acho bem imbecil ainda mais numa primeira vez. Aliás, eu meio que acho esse lance bizarro em todas as vezes. Tudo o que vem na minha cabeça é a Rachel de Friends vestida de Princesa Leia. Eu não entendo como uma enfermeira por exemplo pode ser assim tão sensual.

Ok, acabou. Seu cabelo tão embaraçado quanto uma volta de barco. Ele acabado, vira e capota. Foi tudo bem para uma primeira vez. Mas se for parar pra pensar, primeiras vezes não deviam servir de referência mas acabam sempre servindo. Se foi ruim pode ser ruim sempre! Se foi incrível pra você e ruim pra ele pode ser um grande problema. E se não teve química? O beijo era sensacional mas o sexo foi terrível. O que fazer? Ele vai ligar no outro dia? Ele vai falar pros amigos? Ela vai querer de novo? Ela vai se soltar na próxima?

Acho que não tem muita resposta padrão, mas eu acho primeiras vezes tão terríveis quanto primeiros dates. Mas o melhor de tudo é que vem muitos outros pra comprovar qualquer coisa e responder a todas as perguntas. E assim seguimos ansiosas (ou não) pela próxima vez. E aí? Na minha casa ou na sua?