Arquivo | agosto, 2014

A parte chata da vida.

18 ago

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Viver é legal, todo mundo sabe. É das maiores obviedades que conhecemos.  A gente adora mesmo viver. A gente vive a vida pra ser feliz, pra amar, pra conquistar objetivos, pra gargalhar, viajar, comer, dançar, se exercitar, dormir, ajudar, beber, superar, essas coisas todas que a gente veio ao mundo fazer. Mas daí tem também a parte chata da vida, que basicamente se resume em “estar em dia” com as coisas. Me explico. Estar em dia com o governo por exemplo. Você tem que votar em todas as eleições, meio que não pode sair da linha senão vai presa, precisa pagar contas, multas e tal. Você tem que estar em dia com a sua família. Isso implica em ligar e se fazer presente com todos eles, sejam lá em quantos estados e países estejam. É preciso estar em dia com a balança também, e isso faz com que você viva na torturante e eterna dieta. É imprescindível estar em dia com as notícias e amigas. Ai de você se perde algum acontecimento, encontro ou evento. E finalmente tem as piores coisas que você tem que estar em dia, na minha opinião: com exames médicos e com documentos pessoais.

Particularmente estou vivendo esses dois momentos de “estar em dia” com essas coisas e eu tenho semi vontade de morrer ou matar alguém quando penso nelas. Eu sei que não sou só eu. Porque não conheço alguém que pense “Ahhh hoje acordei tão bem e feliz que vou fazer uns exames médicos ginecológicos e vou renovar meu passaporte. Aproveito e tiro o visto dos EUA, coisa simples. Ah que maravilha viver”. Não né, queridos.

Tenho tido que fazer diveeeersos exames recentemente. Para check up mesmo, coisa anual de ginecologista. E porque estou com uma dor estranha quando corro que pode ser um problema sério de coluna. Um saco. A saga dos exames já começa na chatice pra marcar. A minha começou de maneira muito curiosa por sinal, ao telefone:

– Oi eu queria marcar 8946mil exames, pode me ajudar?

– Olá senhora, aguarde um momento, desculpa o incomodo. (Essa frase é repetida 100 vezes.)

– Oi ser humano, preciso fazer um raio-x da coluna.

– Olha, é que a coluna vertebral nós não fazemos.

– Só pra entender que coluna especificamente vocês fazem então?

Me irritei e desliguei. Resolvi marcar em outro laboratório. Dessa vez, no chat online pra não ter desprazer ouvindo a voz dessas infelizes.  Marquei o primeiro e cheguei lá (cedo e querendo comer a mesa por estar em jejum), e o que acontece?

– Olha senhora, seu exame está agendado para 02 de setembro, e hoje é 02 de agosto.

– Moça, quem em sã consciência marca um exame urgente pra daqui 1 mês? Se é tão urgente eu posso morrer, lembra? Por que eu faria isso?

– Senhora, aguarde um momento, desculpe o incomodo, deve ter sido a atendente que marcou seu exame na data errada.

Aquele tipo de coisa que eu suponho que só acontece comigo, afinal. Suponho e espero, porque ninguém nessa vida merece passar por tanta cagada como eu passo viu?

Não basta a felicidade inenarrável de se fazer esses exames, em paralelo estou tentando também renovar passaporte e visto. É um trampo sem fim. São muitas etapas, se acorda muito cedo pro negócio acontecer, são filas intermináveis, e você precisa recuperar documentos inimagináveis (tipo antecedentes criminais, oi?) e coisas que você não sabe onde estão há anos. Mesmo tendo doença de organização como eu. O site dessas coisas é totalmente mongol e não intuitivo. E funciona quando quer ou dá pau quando você está na fase 87 quase terminando. Impressionante.

Então meus dias tem sido essas alegrias ultimamente, exames e documentos. Dias cheios de animação e coisa dando errado. Entre senhas, filas sem fim, pessoas estranhas ao redor e burocracias que não funcionam. E pra conseguir sobreviver a essa parte chata vou lembrando sempre que possível do lado bom da vida. Há de valer a pena né? Além do mais, tudo isso está acontecendo porque preciso estar em dia pra minha próxima viagem. Então sim, acho que vale a tortura de passar pela parte chata da vida para ter algo tão incrível de recompensa.

O amor e mais um monte de coisa.

11 ago

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Muitas vezes a vida resolve dar aqueles tapas na cara pra gente acordar. Normalmente singelos sinais e toques não funcionam. É preciso algo grande ou marcante acontecer pra você se dar conta de quem realmente importa e vale a pena. É incrível como podemos ser tão seguros e certos de tantas coisas durante tanto tempo mas quando diz respeito ao coração… ah, daí é outra história. Toda a certeza vai se esconder num universo bem distante e misterioso, junto com o bom senso, a razão e às vezes até a dignidade. A gente se perde, a gente confunde, a gente fica tão besta.

Tenho a impressão que das coisas mais difíceis na vida estão os relacionamentos. Justamente porque são regados e movidos dentre tantas coisas, pelo amor. E o amor, a gente sabe, é aquilo lá que ninguém sabe bem explicar. “É fogo que arde sem se ver, é ferida que doi e não se sente” e aquela coisa toda. Mas veja bem, se nem Camões conseguiu explicar direito quem sou eu né? Posso tentar já que tenho uma visão bem particular do que é o amor. Acho que é soma de um monte de coisa que misturando e colocando pra ferver, vira amor. É aquele cuidado na medida certa, é carinho, respeito, admiração eterna pela pessoa. É aquela falta de ar ao ver que a pessoa está ligando ou digitando, é empatia, companheirismo porque dá vontade e não porque é forçado. É ser fissurada pelo cheiro da pessoa e o que ela deixa na sua cama. É enroscar as pernas antes de dormir e acordar um pra cada canto se procurando. É fungar no cangote quentinho. É falar que tem saudade mesmo tendo visto há uma hora. É querer matar de morte lenta e dolorida e depois de 5 minutos querer esmagar bem pertinho de tanto que ama. É estar junto em evento legal e fazer dos eventos chatos, algo de bom. É não fazer nada junto, e isso ser o máximo e suficiente. É viajar junto e ser sempre inesquecível, é saudade a toa, falta insuportável, sufoquinhos inexplicáveis, planos, carinho do nada, mudanças discutidas, atitudes, cafunés, elogios, beijos roubados. É tesão, é vontade a qualquer hora do dia, é paciência quando tudo está perfeito ou quando tudo parece cair, são promessas, gargalhadas, lealdade, pensamentos no presente e futuro. E gostar de cada centímetro da pessoa e as vezes também ter raiva de cada um deles, porque até raiva pra mim é amor.

O amor se manifesta de diversas formas que a gente não sabe bem explicar. De onde veio, da onde começou, pra onde vai. Às vezes parece que eu sempre estive aqui, você aí mas de alguma maneira a gente sempre esteve junto lá, sendo lá aquele lugarzinho só nosso. E as ironias do destino fazem pessoas se perderem, mas por sorte fazem outras se reencontrarem e na minha humilde e romântica opinião, a beleza da vida está justamente aí, nos reencontros sejam eles quais forem.

E nessas de não saber o certo ou errado que a gente vê que o conceito de certo e errado é bem relativo dependendo de quem julga. De fora é bem simples e fácil, mas viver aquela história como personagem principal faz as coisas terem dimensões desproporcionais e descabidas. Às vezes o legal é desafiar o obvio. Meio que a gente sabe que tá fazendo burrada, mas insiste. Não porque a gente é brasileiro e brasileiro não desiste nunca. Mas porque a gente sente que é o certo. Pelo menos o nosso certo. E já que aquele amor recomeçou pela milésima vez, penso que se ele é eterno eu não sei, mas insistente já vimos que ele é, viu.

E dai entre o “nunca mais” e o “pra sempre” tinha a gente lá. Mais uma vez. E dentre todas as opções que a vida sugere eu prefiro sempre escolher o “pra sempre”. Mesmo sendo esse sempre o tempo que durar.

Aquela velha história. Novos começos vem do fim de outros começos. Então um brinde aos novos recomeços. E ao amor, que faz tudo valer a pena quantas vezes forem necessárias.