Viver é legal, todo mundo sabe. É das maiores obviedades que conhecemos. A gente adora mesmo viver. A gente vive a vida pra ser feliz, pra amar, pra conquistar objetivos, pra gargalhar, viajar, comer, dançar, se exercitar, dormir, ajudar, beber, superar, essas coisas todas que a gente veio ao mundo fazer. Mas daí tem também a parte chata da vida, que basicamente se resume em “estar em dia” com as coisas. Me explico. Estar em dia com o governo por exemplo. Você tem que votar em todas as eleições, meio que não pode sair da linha senão vai presa, precisa pagar contas, multas e tal. Você tem que estar em dia com a sua família. Isso implica em ligar e se fazer presente com todos eles, sejam lá em quantos estados e países estejam. É preciso estar em dia com a balança também, e isso faz com que você viva na torturante e eterna dieta. É imprescindível estar em dia com as notícias e amigas. Ai de você se perde algum acontecimento, encontro ou evento. E finalmente tem as piores coisas que você tem que estar em dia, na minha opinião: com exames médicos e com documentos pessoais.
Particularmente estou vivendo esses dois momentos de “estar em dia” com essas coisas e eu tenho semi vontade de morrer ou matar alguém quando penso nelas. Eu sei que não sou só eu. Porque não conheço alguém que pense “Ahhh hoje acordei tão bem e feliz que vou fazer uns exames médicos ginecológicos e vou renovar meu passaporte. Aproveito e tiro o visto dos EUA, coisa simples. Ah que maravilha viver”. Não né, queridos.
Tenho tido que fazer diveeeersos exames recentemente. Para check up mesmo, coisa anual de ginecologista. E porque estou com uma dor estranha quando corro que pode ser um problema sério de coluna. Um saco. A saga dos exames já começa na chatice pra marcar. A minha começou de maneira muito curiosa por sinal, ao telefone:
– Oi eu queria marcar 8946mil exames, pode me ajudar?
– Olá senhora, aguarde um momento, desculpa o incomodo. (Essa frase é repetida 100 vezes.)
– Oi ser humano, preciso fazer um raio-x da coluna.
– Olha, é que a coluna vertebral nós não fazemos.
– Só pra entender que coluna especificamente vocês fazem então?
Me irritei e desliguei. Resolvi marcar em outro laboratório. Dessa vez, no chat online pra não ter desprazer ouvindo a voz dessas infelizes. Marquei o primeiro e cheguei lá (cedo e querendo comer a mesa por estar em jejum), e o que acontece?
– Olha senhora, seu exame está agendado para 02 de setembro, e hoje é 02 de agosto.
– Moça, quem em sã consciência marca um exame urgente pra daqui 1 mês? Se é tão urgente eu posso morrer, lembra? Por que eu faria isso?
– Senhora, aguarde um momento, desculpe o incomodo, deve ter sido a atendente que marcou seu exame na data errada.
Aquele tipo de coisa que eu suponho que só acontece comigo, afinal. Suponho e espero, porque ninguém nessa vida merece passar por tanta cagada como eu passo viu?
Não basta a felicidade inenarrável de se fazer esses exames, em paralelo estou tentando também renovar passaporte e visto. É um trampo sem fim. São muitas etapas, se acorda muito cedo pro negócio acontecer, são filas intermináveis, e você precisa recuperar documentos inimagináveis (tipo antecedentes criminais, oi?) e coisas que você não sabe onde estão há anos. Mesmo tendo doença de organização como eu. O site dessas coisas é totalmente mongol e não intuitivo. E funciona quando quer ou dá pau quando você está na fase 87 quase terminando. Impressionante.
Então meus dias tem sido essas alegrias ultimamente, exames e documentos. Dias cheios de animação e coisa dando errado. Entre senhas, filas sem fim, pessoas estranhas ao redor e burocracias que não funcionam. E pra conseguir sobreviver a essa parte chata vou lembrando sempre que possível do lado bom da vida. Há de valer a pena né? Além do mais, tudo isso está acontecendo porque preciso estar em dia pra minha próxima viagem. Então sim, acho que vale a tortura de passar pela parte chata da vida para ter algo tão incrível de recompensa.