Arquivo | fevereiro, 2016

Uma curiosa análise sobre aviões.

25 fev

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A última viagem que fiz de avião teve muita turbulência. Muita mesmo. E eu reparei que sempre quando isso acontece é despertado um fenômeno dentro de mim. Uma coisa muito maluca, meio contra tudo o que eu sou ou penso. Sou uma pessoa otimista por natureza, sempre acho o lado bom das coisas, e eu sempre acho que tudo vai dar certo. Acontece que quando estou num avião e começa uma turbulência, ou qualquer tremidinha, eu viro uma pessoa negativa. Só tenho um único pensamento: isso vai cair e vamos todos morrer. É horrível, é fúnebre, é bizarro. Mas eu sempre penso nisso. Sempre. Não, eu não tenho medo ou pânico de avião, nunca tive. Normalmente eu entro, durmo e acordo no meu destino. Sou bem tranquila com isso. O problema é que qualquer mexidinha estranha eu viro uma pessoa pessimista e pensamentos horríveis rondam minha cabeça. Já imagino as notícias, o enterro, é bem longe mesmo que vai meu pensamento. Se por acaso ou milagre o avião cair e sobrevivermos, eu já me imagino meio no Lost e desesperada porque não vou querer matar nenhum animal pra comer, não vou saber subir na árvore pra pegar frutas, vou ter medo da black smoke, não vou saber lidar sem depilação e essas coisas.

Eu sei que é uma insanidade pensar tudo isso mas eu me permito passar por esse fenômeno porque eu descobri que avião é definitivamente o local de se passar por coisas ridículas. Aliás eu amo gente que faz coisas inaceitáveis no avião. A cunhada de uma amiga deita no chão para dormir. Sim, embaixo dos pés dos coleguinhas. Ela só consegue dormir assim. Porque uma vez ela tomou remédio pra dormir e comeu peito de frango com a mão. Se sujou inteira e dormiu com o frango na mão.

A namorada do meu melhor amigo tem tanto pavor de avião que uma vez ela sumiu por 20 minutos durante o voo e ele a encontrou chorando na cabine do piloto comendo pringles pra se acalmar. O piloto foi super querido, mostrou todos os botões e como funcionava tudo. Era teoricamente o único jeito dela parar de ter crise mas só piorou quando ela viu que o piloto podia deitar e dormir praticamente pois as coisas aconteciam sozinhas.

Uma amiga minha quando era pequena vendeu um camarão pra um cara do lado dela. Ela não ía comer e o gringo perguntou se ela ía deixar ali. Ela disse que sim e ele: “I’ill give you 10 bucks”. Ela aceitou! O pai dela vendo a cena de longe ficou possuído achando que o cara estava comprando ela ou algo do tipo.

Um amigo meu fica totalmente emotivo em avião. Do nada, sem motivo aparente. Não sei se é a altitude, pressão, (ou esse tal medo de morrer), mas ele fica sensível. Chora. Já chorou assistindo Hangover, ou qualquer outro filme que definitivamente não se chora. Sei lá, parece que qualquer cena em câmera lenta já enche os olhos. Se aparece um corredor e uma pessoa correndo em câmera lenta no filme, então… é fim de jogo pra ele, chora tipo de dar vergonha.

Já uma amiga passou por uma situação bem curiosa em que um cara se apaixonou por ela durante o voo. Mesmo depois dela ter tido uma mania engraçada em voos que é pegar na carteira três fotos de rabino e prender no banco da frente para proteção. Uma outra amiga diz que sempre que entra no avião olha ao redor pra ver de quem ela ficaria amiga caso de fato o avião caísse numa ilha. Olha só como meu pensamento não é assim tão absurdo e outras pessoas compactuam. Já uma outra diz que pensa o oposto, tipo “Por que iria cair bem esse avião que eu tô? Uma pessoa tão boa e indispensável como eu”. Veja só que seguro que é voar com amigas assim.

Tem uma situação básica que eu já passei mil vezes e aposto que muita gente também. Você está viajando sozinha e a poltrona do seu lado ainda está vaga. Você avista de longe um mega gato andando em câmera lenta sorrindo na sua direção indo sentar ao seu lado. Seu futuro marido provavelmente. Nessa cena imaginária ao fundo vem tocando “Weeeeee are the Champion” e você está pronta pra flertar mas a realidade é outra e atrás dele tem um cara enorme, fedido, que por acaso esqueceu de comprar 2 assentos e se joga do seu lado ainda querendo fazer amizade. É muito frustrante, sabe.

O pai de um amigo meu quando ele tinha 2 anos, resolveu dar um golinho de champagne pra ele dormir e passar a dor de ouvido. Acontece que meu amigo ficou totalmente bêbado, e virou o bebê malucão do avião. Dava tapa na careca do cara da frente, gritava, dava show. (Fica aqui a lição para não darmos bebidas alcoólicas para bebês em aviões, ok? Em outros lugares acho que ok, é que o no avião tem o tal efeito inexplicável.)

Outra coisa que acho engraçado em avião é que as coisas óbvias não são mais óbvias lá. Eu peço o menu vegetariano as vezes e aí de café da manhã os caras me mandam uma abobrinha. Ah tá, porque pão é feito de animal né? Qual o sentido disso? Ou então aquele spray que eles passam pra desinfetar os brasileiros em voos indo pro Uruguai e pra Argentina. O que é aquele troço? E obviamente não funciona pra nada, certo? Pra que então?

Ah! Tem uma outra história bizarra que ouvi recente de um amigo que mora na Australia e veio para o Brasil de férias. Na volta ele sentou ao lado de uma menina e ficaram conversando muito. Eis que eles ficaram durante o voo.  E no meio de uma das conversas e dos beijos ele perguntou “O que você veio fazer na Australia”?  A menina (que deixou a cara de pau no Brasil) responde:  ” Vim visitar meu namorado”. Gente! Que isso? Eu imagino que ela deve seguir aquela linha de raciocínio de que se for em outro país não se configura como traição, então pra ela o que dizer dentro do avião, não é mesmo? Praticamente uma zona franca.

Eu cheguei a conclusão que o avião é o lugar de coisas inaceitáveis virarem aceitáveis. E discuti isso com algumas pessoas que me contaram mais histórias impagáveis que dariam até um novo texto. Estou coletando mais algumas pra fazer isso acontecer (ou pra ficar rindo sozinha mesmo). Tem alguma história boa pra me mandar?