E é mesmo. Já dizia um grande amigo meu: Dê dinheiro a uma pessoa, mas não dê intimidade. Sábias palavras. Porque quando se tem intimidade demais, tudo muda, tudo se potencializa, parece uma outra relação, um mundo paralelo, é tão curioso.
Eu particularmente me torno íntima das pessoas bem rápido. Acho que por não ser nada tímida e por falar umas besteiras logo de cara, rola uma identificação, uma empatia e daí é um pulo pra intimidade. Minhas amigas vivem reclamando disso, eu mal conheço uma pessoa e já tô lá, íntima de Oliveira. Conheço um cara legal, um futuro prospect e quando elas veem estamos melhores amigos, já dando tapa um no outro. Conheço a namorada do meu ex e quando devia odiá-la, já estamos best friends conversando há horas. Sei lá, eu sou dessas, não tem muita explicação. Eu tenho a maior facilidade em dizer pra uma amiga que ela está chata, pesando na de alguém, ou que ela está exagerando na autoestima. Tenho abertura pra falar sobre assuntos delicados e sobre os mais íntimos medos das pessoas. Isso é liberdade, isso é conhecer a pessoa muito bem, isso é intimidade.
Mas existe uma intimidade que me assombra. A intimidade de casais. Acho que meu maior medo em todos os meus relacionamentos foi o de exagerar na intimidade, o de perder o encanto depois de anos. Não porque eu me liberte tanto assim, e seja dessas de arrotar na cara do namorado, isso jamais. Mas tenho medo pelo que eu vejo por aí. Dependendo do grau de intimidade, tem mulheres que param de se cuidar, que atrasam a depilação, param de usar brinco (juro que ouvi uma história dessas!), deixam de se maquiar. Tem caras que não usam mais perfume, deixam a barba daquele jeito esquisito, vão ao banheiro de porta aberta (isso me mata do coração) e por não se cuidarem acabam indiretamente pedindo para que a mulher também deixe de se cuidar. Isso me assusta porque eu não consigo ver como um amor (por maior e mais profundo que seja), suporte isso.
Amor, na minha opinião, antes de qualquer coisa é respeito e admiração e eu juro que se a intimidade for tão fora do normal minha admiração vai diminuir pelo dito cujo. É natural. Não porque eu sou louca, mas pelo simples fato do mistério acabar, da surpresa desaparecer, de surpreender não ser mais tão comum. É diferente você se arrumar para uma superfesta no mesmo banheiro que seu parceiro de você aparecer simplesmente deslumbrante e pronta. É obvio que você não vai acordar penteada e de rímel, mas a depilação em dia, unha feita é tipo o mínimo né? Fazendo aqui uma metáfora bem óbvia, pra se ter uma planta linda é preciso antes de qualquer coisa cuidar da semente (que é o início de qualquer coisa) e daí passar a regar sempre para manter a beleza dela. Isso é a manutenção.
Algumas intimidades me assombram tanto que tenho medo de casar. De verdade! Confesso, deve ser o máximo transar terça de manhã e tal. Mas e acordar todo santo dia toda amassada, com cabelo de louca e cara lavada? Não pode ser muito animador isso pro moçoilo né? Fora ir dormir… como faz? Eu durmo toda errada, com pijama cafona, de coque, bepantol na boca, creme fedido no rosto e nebacetin onde dá, porque tudo na minha mente se cura com nebacetin, não? Eu praticamente grudo na cama de tanta nhaca, não deve ser legal dormir comigo.
Não tenho a menor dúvida que intimidade e familiaridade acabam por trazer segurança, mas acho que ao mesmo tempo descarta o entusiasmo e a emoção do inesperado. Alguns casais ou até amigos, que já se relacionam há muitos anos têm tendência a dar muito valor para o que sabem um do outro. E eu acho isso de verdade fascinante. A gente até faz previsão do que a outra pessoa vai pensar ou fazer, a gente adivinha o que está por vir, justamente por conhecê-la tão bem. Mas quando se trata de casais, acho uma área delicada a da intimidade. Eu acredito muito que o romance o erotismo gostam do mistério, do imprevisível, da surpresa. Seria quase impossível desejar algo já tão previsível, não é? Acredito que o grande trunfo para que o desejo não diminua ou termine, é o mistério, não tem jeito. É a novidade, a insegurança boa, a incerteza e até o medo. Então o que prego e espero pra todos nós é: Mais amor por favor e menos intimidade por gentileza. E sem xixi de porta aberta, pelo amor.